O jovem africano que ouviu “vai gritar Lula lá na África” ao ser detido pela Polícia Militar no dia da eleição (2/10) em Novo Gama (GO), no Entorno do DF, disse que foi o PM que cometeu a injúria racial e defendeu que não houve motivo para prisão.
Um vídeo que circulou bastante nas redes sociais esta semana, mostrou o momento em que o mestre de obras, de 32 anos, estava algemado com os braços para trás, segurado por um militar, é possível ouvir a frase racista e xenófoba
Veja o vídeo:.
“O policial ficou falando coisas que me dava raiva, de injúria. Isso é um preconceito, isso se chama racismo”, disse ao Metrópoles o jovem, que nasceu na Guiné-Bissau e vive no Brasil há oito anos. O comentário sobre gritar Lula na África teria sido repetido mais de uma vez, segundo o jovem.
Sem boca de urna
Com a condição de não ser identificado, o bissau-guineense relatou que toda a situação aconteceu na manhã do domingo de eleição. Ele mora a cerca de 200 metros de um colégio, que era zona eleitoral naquele dia.
O jovem disse que realizava um churrasco com amigos e vizinhos, quando o policial militar teria entrado na casa sem autorização, com a alegação de que ali estaria ocorrendo boca de urna, já que eles gritavam manifestando apoio ao candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Eu falei para o policial: ‘Você vai me impedir dentro do meu lote, da minha casa? O senhor vem tentar me intimidar?’”, relatou o homem africano, que disse ter convidado, com educação, o militar a se retirar da residência.
O policial então, segundo o jovem, o teria agredido nas mãos, porque ele teria se negado a colocar as mãos para trás. Ele foi conduzido para a delegacia, mas o delegado teria se negado a lavrar uma prisão em flagrante, pois entendeu que não houve boca de urna. O vídeo mostrou que o PM deu um puxão repentino e forte nos punhos algemados do homem, o que causou dor, segundo ele.
Defensor da liberdade
“Hoje aconteceu comigo, amanhã pode acontecer com o senhor e pode acontecer com várias pessoas. Nós precisamos ter a nossa liberdade. Não é admissível no século XXI chegar policial na sua casa e intimidar você, sem nenhum ato ilícito que você cometeu”, defendeu o jovem do Guiné-Bissau.
Ele disse que já conversou com representantes do Ministério Público de Goiás (MPGO), que investiga o caso, e vai entrar com uma ação na Justiça contra o policial por injúria racial.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSPGO) informou que a PM determinou a abertura de um procedimento administrativo para apurar a circunstância do caso e afastou o policial militar das suas atividades operacionais até o final das apurações.
“A Polícia Militar de Goiás reitera que não compactua com nenhum tipo de conduta contrária aos preceitos das leis”, diz trecho da nota.