ESPORTE Na foto: Torcida da ArgentinaFoto : Gazeta de la Conchita / Reprodução

Tem coincidência boa para o Brasil! Nos primeiros títulos mundiais, em 1958 e 1962, e no penta-2002, coincidiu de a Argentina cair fora na fase de grupos, algo possível de se repetir hoje.

Na Suécia-58, os gardelitos foram saqueados pelos italianos, pois perderam seu meio-campo, conhecido por ‘anjos de caras sujas’, para os times da Bota; eles preferiram os bons contratos em liras a suar a camisa albiceleste.

Maschio, Angelillo e Sivori se mandaram; o ponta-esquerda Ernesto Grillo, consciência pesada, voltou, mas a Argentina ficou dependente de dois velhinhos, dois cracaços, mas sem o fôlego da juventude: Labruna e Rossi. Derrota para Alemanha, vitória sobre a Irlanda e goleada sofrida diante da Tchecoslováquia no jogo final: 6 a 1.

Já em 1962, los gardelitos começaram vencendo a fechada Bulgária por 1×0, mas depois levaram 3×1 da Inglaterra e ficaram no 0 a 0 com a Hungria.

Neste selecionado, jogava Sanfelipo, do San Lorenzo de Almagro, antes de assinar com o Bahia, em uma passagem memorável da qual os torcedores com mais de 60 anos hoje, com certeza guardam boas recordações.

Em 2002, foi a vez de a seleção treinada por Marcelo Bielsa não aguentar o grupo com Nigéria, Inglaterra e Suécia, mesmo tendo craques como Sorín e Batistuta, além da boa forma de Crespo.

Na estreia, tudo bem: 1 a 0 na Nigéria, gol de Batistuta, mas na segunda partida, Beckham marcou para a Inglaterra e ficou 1 a 0. Na última partida, a Suécia abriu o placar e a Argentina só foi empatar faltando dois minutos, com Crespo.

A Argentina ainda levou o título de seleção mais antipática, concedido pelos japoneses em pesquisa de opinião.

A neurose do destino

Não se pode diagnosticar mania, obsessão ou compulsão, pois para tanto é preciso ser credenciado no Conselho de Psicologia, mas a Argentina tem uma tendenciazinha para neurose do destino, ao habituar-se a quedas precoces. O mau costume começou já na Copa de 1934, quando a primeira fase era em sistema mata-mata e los gardelitos não aguentaram com a Suécia. Quem gosta de tirar as cartas do tarot dos mestres de Marseille, já percebeu a presença constante de duas pedras no caminho argentino, a Suécia e a Inglaterra, além da coincidência do contraste com o desempenho do Brasil. Neste caso, o goleiro Freschi foi vilão ao levar uma sucessão de frangos. Suécia 3×2: e não chore por mim, Argentina.

O fim de uma gorda carreira

Um remedinho necessário para as festinhas de Maradona terminou tirando o gênio maluco da Copa de 94: ele usava efedrina como descongestionante nasal possivelmente para absorver melhor as pedritas do psicoativo do qual era fã. Mas o medicamento tão inocente estava na lista proibida de doping e logo ele, sempre combativo e do lado do bem contra as máfias do futebol e a Fifa, acabou bem marcado pela enfermeira. Poderia Dieguito cantar com Rauzito, quando precisava ser internado clínica Tobias: “fui levado na marra, pois enfermeira quando agarra é que nem ordem de prisão”. A mulher de branco colheu o sangue de Diego: foi o fim da gorda carreira. A Argentina acabou caindo nas oitavas, como voltou a ocorrer na Copa da Rússia, em 2018.

B.O. de roubo na Inglaterra

A Argentina caiu nas quartas da Copa de 1966, roubada, porque estava tudo certo para a Inglaterra manter sua tradição pirata de país acostumado a pilhagens e invasões. O meia Rattín, cérebro da seleção gardelita, tinha todas as chances de derrubar a dona da casa com seus jogadores cintura-dura, mas o juizão interviu. Um caso raro de jogador expulso no intervalo: ele disse qualquer coisa para o árbitro ao apontar para sua braçadeira de capitão, aí sua senhoria não curtiu e franziu a testa. Mesmo sem entender uma palavra em espanhol, expulsou Rattín (naquele tempo não tinha cartão vermelho), achando ter sido xingado. “Bastou a expressão do rosto dele”, disse o juiz sem vergonha. A Inglaterra venceu: 1 a 0.