A Americanas, rede varejista com dívidas declaradas de R$ 42,5 bilhões, fechou 95 lojas entre 19 de janeiro, quando teve início a sua recuperação judicial, até 17 de setembro.
Em oito meses, a empresa encerrou as operações de uma loja a cada 2,5 dias, em média. Atualmente, a varejista soma 1.785 pontos de venda. Em janeiro, eram 1.880.
Os dados constam de relatório de acompanhamento mensal dos administradores judiciais da varejista, enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) neste domingo (1º).
De acordo com o documento, a Americanas tem, atualmente, 16 ações de despejo em andamento por falta de pagamento.
Os débitos com locadores fizeram com que a Americanas já fosse despejada de dois shoppings: o Plaza Sul, na zona sul da capital paulista, administrado pela Allos (fusão da brMalls e do Aliansce Sonae), e o Vitória, na capital capixaba, sob administração da Nova Cidade Shopping Centers.
“Cumpre informar que as recuperandas se manifestaram novamente no id. 6 2925086 informando que as lojas situadas nos shoppings centers Plaza Sul, em Jabaquara/SP, e Nova Cidade, em Vitória/ES, tiveram seus despejos forçados efetivados, registrando ainda que atualmente as recuperandas contam com 16 (dezesseis) ações de despejo em curso por falta de pagamento de créditos concursais, informando que, em alguns desses casos, depositaram judicialmente as importâncias cobradas”, diz trecho do relatório do administrador judicial.
Quanto ao número de funcionários demitidos nas últimas quatro semanas (entre 21 de agosto e 17 de setembro), o relatório aponta que somam 1.131 (desse total, 639 foram pedidos de demissão).
De acordo com a companhia, a Americanas somava 34.369 funcionários em 17 de setembro. Este número, porém, é superior aos 33.948 empregados que a empresa dizia ter em 20 de agosto.
Questionada pela reportagem, a Americanas afirmou em nota que “o quadro de funcionários segue a dinâmica sazonal do varejo e que os números de demissões e pedidos de saída em agosto são equivalentes ao mesmo período do ano anterior, até a data”.
A empresa reforçou que anunciou recentemente a abertura de 1.200 vagas temporárias para Black Friday e Natal –este processo de contratação, porém, teve início em 18 de setembro.
“A companhia continua focada na manutenção de suas operações e no aumento de sua eficiência e reforça seu comprometimento com a transparência na relação com os sindicatos e o cumprimento integral e tempestivo de suas obrigações trabalhistas, na forma da legislação vigente”, afirmou.
CPI TERMINOU SEM APONTAR CULPADOS
A crise na varejista começou na noite de 11 de janeiro, quando a Americanas divulgou em fato relevante “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões em seus balanços.
Em 13 de junho, cinco meses depois de vir à tona um dos maiores escândalos corporativos da história do Brasil, a varejista assumiu que houve fraude nos seus balanços.
Relatório elaborado por assessores jurídicos que acompanham a Americanas desde que ela entrou em recuperação judicial apontou que demonstrações financeiras da varejista vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da empresa, o que inflou seus resultados em R$ 25,3 bilhões –esse foi o lucro fictício acumulado ao longo dos últimos anos (a empresa não informou ainda quantos anos).
No último dia 25, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigava a Americanas encerrou suas atividades sem apontar culpados.
Com a aprovação do relatório por 18 votos favoráveis, diante de 8 votos contrários, o texto, de autoria do deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), não identificou os responsáveis pelas “inconsistências contábeis” e se limitou a fazer sugestões de melhorias legislativas.
Segundo Chiodini, não foi possível definir, “de forma precisa, a autoria dos fatos identificados nem imputar a respectiva responsabilidade criminal, civil ou administrativa a instituições ou pessoas determinadas”.