A Polícia Militar (PM) proibiu o soldado Leandro Prior, de 28 anos, de usar a farda da corporação para pedir o namorado em casamento durante a tradicional Parada do Orgulho LGBT, no próximo domingo (23) em São Paulo. A corporação negou o pedido do policial para trajar o uniforme alegando que o regulamento interno da instituição não prevê o uso do “fardamento” por agente da PM de folga em “manifestações”.
Por meio de nota divulgada na noite de quarta-feira (19) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), a PM ainda alegou que “não faz distinção de pessoa por sua orientação sexual ou identidade de gênero, incluindo os mais de 80 mil policiais militares de São Paulo”
Policial planejava surpresa
O soldado Leandro encaminhou, na última sexta-feira (14), documento à PM solicitando autorização para usar o uniforme da corporação no momento que pretendia oficializar o noivado com o namorado Elton da Silva Luiz, de 26, que é caça-talentos em uma agência de modelos. O policial estará de folga no domingo e queria fazer a surpresa durante o desfile da Parada LGBT.
De acordo com o advogado Antonio Alexandre Dantas de Souza, que defende Leandro, ele e seu cliente ainda vão discutir que medidas tomarão daqui para frente sobre a negativa da PM em não concordar com que o soldado use a farda no seu noivado.
“Leandro está triste e desanimado. Sentarei com ele agora. Vamos verificar o que é importante e o que pode ser feito legalmente”, falou Antonio. “Seria algo grandioso, não só para ele quanto para muitos outros. Leandro tem orgulho de ser policial militar. Ele tem orgulho de ser quem ele é e de amar quem ele quiser”.
Ainda segundo Antonio, há relatos de que outros policiais heterossexuais pediram seus parceiros e parceiras em casamento usando o uniforme da PM publicamente, sem pedir sequer autorização superior, e nunca foram repreendidos por isso.
“Leandro reafirmou nesse pedido o orgulho que tem de usar essa farda. Tanto é que pede autorização superior para fazer uso dela num momento que seria especial”, comentou o advogado.
Entre os motivos estão o fato deste ano se comemorar 50 anos da violenta invasão da polícia de Nova Iorque a um local onde gays se reuniam nos Estados Unidos, o que “deu origem ao movimento moderno de luta dos direitos LGBT”. — Foto: Reprodução
Soldado mandou carta à PM
Procurado pelo G1, Leandro informou que não poderia comentar o caso. Questionado, Elton também preferiu não falar sobre o assunto, mas autorizou a divulgação de suas fotos com o namorado nas redes sociais.
Documento obtido pela reportagem mostra que o policial enviou carta ao 13º Batalhão da PM, onde atua, elencando cinco itens para solicitar ao seu comando autorização para “uso do fardamento para oficialmente pedir meu companheiro em noivado durante a 23ª Parada do Orgulho LGBT”.
Entre os motivos descritos estão o fato de que neste ano é lembrado os 50 anos da invasão da polícia dos Estados Unidos ao bar Stonewall Inn, local onde gays se reuniam em Nova Iorque, o que “deu origem ao movimento moderno de luta dos direitos LGBT”.
Em outro item, Leandro cita que “passou e sofreu por homofobia institucionalmente” e, que diante disso, “viu como relevante importância social e excelente oportunidade a instituição para ela evidenciar e acenar à sociedade paulista e brasileira que não compactua com a homofobia”.
Leandro e o namorado costumam trocar declarações de amor nas redes sociais — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/Instagram
PM ficou conhecido por beijo no Metrô
Leandro ficou conhecido nacionalmente em junho do ano passado, quando um vídeo gravado sem sua autorização o mostra fardado e beijando a boca de outro homem não identificado, em trajes civis. As cenas foram filmadas dentro do Metrô de São Paulo e repercutiram nas redes sociais depois de serem compartilhadas.
Naquela ocasião, o policial havia deixado o trabalho, mas aparecia fardado dentro de um vagão da Linha 3-Vermelha.
Leandro recebeu xingamentos e ameaças de morte nas redes sociais por causa do ‘selinho’ que deu no amigo. Ele ficou afastado temporariamente para cuidar de uma depressão. Ainda assim acionou a Polícia Civil e a Polícia Militar para tomarem providências. Apesar disso, o soldado também recebeu apoio da comunidade LGBT, inclusive de agentes de segurança.