Sem plano de saúde ou condições de pagar por uma mamografia anual, a empregada doméstica Rosimeire Azevedo, de 47 anos, conta com a campanha Outubro Rosa para realizar o exame, considerado a principal ferramenta para a identificação precoce do câncer de mama. “Fica mais fácil conseguir agendar”, resume Rosimeire, que no ano passado realizou o procedimento na sede da Uneb, no Cabula, próximo à sua casa. Esse ano, ela voltará ao local para repetir o exame, cujo agendamento começou na sexta-feira através do site www.outubrorosa.saude.ba.gov.br.

Rosimeire conta que começou a prestar atenção na campanha há 3 anos, quando a ginecologista pediu o exame e ela teve dificuldades em realizar. “É muito importante e deviam ter mais ações deste tipo”. Este ano, a Secretaria de Saúde do estado vai realizar cerca de 30 mil exames, em diferentes pontos da cidade, a partir de amanhã, 1, na ação mais mobilizadora da campanha.

O Outubro Rosa nasceu nos Estados Unidos, nos anos 80, para alertar as mulheres e a sociedade sobre a urgência do tema. O câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres no Brasil. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) projeta que 4.230 novos casos serão notificados este ano somente na Bahia. E só a prevenção primária e a detecção precoce podem contribuir para a redução da incidência e da mortalidade.

Daí a importância das campanhas, como destaca a superintendente estadual de Regulação da Sesab, Mônica Hupsel. Ela pontua que o diagnóstico precoce consiste na abordagem oportuna das mulheres com sinais e sintomas suspeitos de câncer para identificação da doença em fase inicial, possibilitando um tratamento efetivo e uma maior sobrevida.

Já a prevenção primária consiste em reduzir os fatores de risco modificáveis e promover os fatores de proteção para a doença. “A prática de atividade física, a manutenção do peso corporal adequado, por meio de uma alimentação saudável, e evitar o consumo de bebidas alcóolicas estão associadas à redução do risco de desenvolver câncer de mama. A amamentação também é considerada um fator protetor”, enumera.

Vida depois do câncer

A rapidez foi fundamental para a guia de turismo Sônia Maria Novaes, de 64 anos. No início de 2020, em plena pandemia da Covid-19, ela descobriu um câncer de mama. Fez consulta, exames iniciais e biópsia na rede particular, mas com a confirmação viu que não teria condições de pagar pela cirurgia e pelo tratamento posterior. O Médico da Família a encaminhou para o Centro Estadual de Oncologia (Cican) e em maio daquele ano Sônia fez a cirurgia no Hospital Martagão Gesteira. E segue com a hormonioterapia e as revisões semestrais no Cican.

“Eu me considero vencedora. Pois foi tudo da noite para o dia, sem nenhum sintoma, só uma pequena alteração na mama. Então é muito importante ter autoconhecimento do corpo”, afirma Sônia, que não precisou retirar a mama. Depois da cirurgia ela fez radioterapia e foi descobrindo a importância dos tratamentos complementares em sua recuperação. “Eu tive, por exemplo, umas dores fortes nas axilas e já estava pensando que era o câncer de volta, mas a médica me encaminhou para a fisioterapia e ficou tudo bem”, conta.

Sônia também está mais atenta à alimentação e “levando a sério” a prática de exercícios físicos. E também integra o grupo Sakura (@sakuraprojeto), que nasceu no grupo de fisioterapia do Cican, mas hoje funciona como uma rede de apoio para mulheres que tiveram câncer ou estão se tratando.O grupo promove atividades variadas, como palestras, sessões de cinema e práticas esportivas em lugares públicos. Na semana passada, 30 integrantes fizeram um city tour pelo centro histórico da cidade, guiadas por Sônia, que também conseguiu o ônibus gratuito e desconto no restaurante do Senac. “Esta foi a minha forma de contribuir e foi muito bom, já estamos pensando em outros”, diz.

O grupo Sakura dialoga com as chamadas Práticas Integrativas, hoje uma realidade dentro do Cican. A assistente social Daniella Kerner, que assumiu o núcleo há um ano, explica que as práticas terapêuticas, já reconhecidas por lei desde 2006, foram organizadas no órgão há cerca de dois anos. Pacientes e profissionais do Cican contam com sessões de yoga, reiki, reflexoterapia podal (terapia a partir dos pontos dos pés), cromoterapia e aromaterapia. Os atendimentos são individuais e grupais.

“Nosso principal objetivo é complementar ao trabalho da medicina tradicional, trazer alternativas para o autocuidado, no manejo das emoções e para ajudar aos pacientes a lidar com o estresse dos tratamentos”, afirma Daniella, destacando que os grupos funcionam como espaço de trocas entre pessoas que passaram por situações semelhantes. Temos tido relatos bastante gratificantes, do bem estar conquistado com as práticas”, completa.

Os relatos recebidos pela empresária Flávia Santana diante das perucas cacheadas ou crespas também são surpreendentes. Sócia e gerente do Instituto Essência dos Cachos (@institutoessenciadoscachos) ela começou a pedir autorização às mulheres que fazem transição capilar para usar o cabelo alisado que iria para o lixo para confeccionar perucas para doação. O segundo passo foi doar o cabelo crespo ou cacheado natural. “As mulheres pretas não têm noção que podem doar seus cabelos, acham que não serve, que está ressecado”, diz Flávia, que faz doações à ONG Ligadas Por um Fio, ao Núcleo de Apoio ao Combate ao câncer Infantil (Nacci) e ao Hospital Martagão Gesteira.

“Fazemos laces e vemos a surpresa das pacientes diante da peruca crespa ou cacheada”, conta Flávia, que levou para o salão de beleza seus 20 anos de experiência como enfermeira em UTI neonatal e na obstetrícia. “Sempre cuidei de mulheres, de todas as idades. E aqui no Instituto não seria diferente, pois o câncer mexe com o corpo, com a imagem e com autoestima. Sabemos que muitas mulheres pretas são arrimo de família. Como ia sobra dinheiro para uma lace cacheada? Nós precisamos desse amparo”.

Ação na Arena Fonte Nova marca início da campanha de prevenção

A largada da campanha Outubro Rosa acontece com uma grande ação amanhã na Arena Fonte Nova. O local recebe oito unidades móveis que realizarão 1.085 exames de mamografia. Será o pontapé inicial das ações do governo do estado na capital, que ofertará cerca de 30 mil exames.

A ação acontece durante todo o mês, em 13 diferentes pontos, com agendamento exclusivamente online, pelo site outubrorosa.saude.ba.gov.br. O atendimento será de segunda a sábado, das 7h às 18h, exceto no feriado de 12 de outubro.

No cadastro, a mulher escolhe o dia, local e o turno. Os pré-requisitos são : não ter feito o exame a menos de um ano, não ter feito cirurgia na mama e ter entre 40 e 69 anos. E no dia do exame é preciso levar o RG, CPF, Cartão do SUS e comprovante de residência. Não é necessária a requisição médica.

Outras ações

Além dos exames, o Outubro Rosa terá outras ações durante todo o mês, em unidades de referência como o Hospital da Mulher Maria Luzia Costa dos Santos e o Centro Estadual de Oncologia (Cican).

O primeiro promove uma série de atividades internas e externas voltadas para a conscientização do câncer de mama e do colo do útero, além de incentivar o empoderamento feminino.

Entre os destaques, o hospital organiza duas blitzes de conscientização nos dias 12 e 26 de outubro, na Praça Ana Lúcia Magalhães e no Parque da Cidade, respectivamente. E no dia 17, uma caminhada do Forte Monte Serrat até a Ponta de Humaitá, com concentração na Casa de Apoio do Hospital da Mulher. Já o Centro Estadual de Oncologia (Cican) foca na conscientização, autocuidado e bem-estar das pacientes, além de realizar, ao todo, 140 exames de mamografia nos dias 19 e 26.

Onde fazer exames

UNEB Cabula

Mansão do Caminho Pau da Lima

OAF Liberdade

Salvador Norte Shopping São Cristóvão

Lar Harmonia Piatã

Ginásio Poliesportivo de Cajazeiras Cajazeiras

Policlínica de Escada Escada

Centro de Atenção à Saúde Prof. Dr. José Magalhães Neto (CAS) Parque Bela Vista

Vila Militar Dendezeiros

Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública Cabula

Hospital da Mulher Largo de Roma

Centro Estadual de Oncologia Brotas

A Tarde