A infecção recebe esse nome porque seus sintomas iniciais são menos evidentes do que nos quadros comuns, o que pode adiar a procura por atendimento e o diagnóstico, levando ao agravamento da doença.

“Houve um aumento no atendimento de pacientes com pneumonia grave no Hospital Nove de Julho, Hospital Santa Paula e Hospital Brasília, que pode estar relacionado à pneumonia atípica”, informa a Dasa, dona das três instituições.

No Hospital Infantil Sabará, o aparecimento de casos desse tipo de pneumonia tem sido observado pela equipe médica desde outubro do ano passado, segundo a pneumologista pediátrica Miriam Eller, e houve um aumento importante nos atendimentos nos últimos meses

“Nós já tivemos um surto de pneumonia por Mycoplasma em São Paulo há alguns meses, e agora também há relatos de aumento de casos”, diz Elie Fiss, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo, que não há registros detalhados sobre cada tipo de pneumonia, incluindo a silenciosa, na cidade. No entanto, pode ser percebido o aumento de casos da doença em geral, especialmente entre crianças.

A pasta utiliza os dados do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus como exemplo. Até o fim do mês passado, foram realizados 675 atendimentos por pneumonia no pronto atendimento da unidade: 26 em janeiro, 42 em fevereiro, 129 em março, 164 em abril, 147 em maio e 167 em junho.

No mesmo período de 2023, foram 495 atendimentos – 14 em janeiro, 30 em fevereiro, 78 em março, 126 em abril, 143 em maio e 104 em junho -, uma diferença de 36,4%. Comparando apenas o mês de junho, a variação foi de 60,6%.

Além disso, 129 pacientes com pneumonia foram internados no hospital no primeiro semestre deste ano, contra 124 no seis primeiros meses de 2023. Segundo a secretaria, não foram constatados óbitos pela doença em 2023 e 2024 na unidade.

O que é pneumonia ‘silenciosa’

A pneumonia atípica, como o nome sugere, é uma apresentação da pneumonia fora dos padrões, a começar por seus agentes causadores. O principal microrganismo envolvido nesse quadro é a bactéria Mycoplasma pneumoniae, mas, segundo a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), também podem ser agentes a Chlamydia pneumoniae e a Legionella pneumophila.

A doença é contagiosa. Ela pode ser transmitida por meio de gotículas de saliva contaminadas disseminadas em ambientes fechados, e o paciente pode demorar a perceber que há algo errado. Segundo SPSP, o paciente infectado com Mycoplasma apresenta menos sintomas do que na pneumonia clássica e permanece realizando suas atividades habituais.

Foi exatamente o que aconteceu com a atriz Camila Pitanga. Em março, ela usou as redes sociais para compartilhar o diagnóstico de pneumonia assintomática e recomendar cuidados com a saúde.

No post, a atriz contou que não apresentava sintomas comuns de pneumonia, como febre e tosse, mas se sentia extremamente cansada. Amigos recomendaram que ela procurasse atendimento médico e após diversos exames veio a confirmação da doença.

Sintomas e tratamento

“A pneumonia por Mycoplasma tem uma apresentação de início mais branda do que a pneumonia comum. Pode ocasionar febre mais baixa e mal-estar leve. Em compensação, ela possui um quadro de falta de ar mais intenso do que uma pneumonia pneumocócica”, explica Fiss.

O paciente pode sentir mal-estar, dor de garganta, dor de cabeça e febre. Após três a quatro dias, surge tosse seca, que pode ficar produtiva, mais intensa e persistente.

A doença geralmente é autolimitada, isto é, com resolução dos sintomas entre duas e quatro semanas. No entanto, em alguns casos, ela pode ocasionar quadro clínico grave, mesmo com o uso de antibióticos.

Os especialistas afirmam que o processo diagnóstico é desafiador porque a doença não costuma apresentar sinais que a diferenciem de outros tipos de pneumonia nos exames de raio-x. Além disso, os testes moleculares que podem identificar o agente causador da doença não são tão difundidos.

Quando não há a possibilidade de realizar todos os exames, os médicos utilizam um espectro amplo de antibióticos, que pode tratar tanto infecções típicas quanto atípicas. Por isso, é comum que o paciente receba uma combinação de medicamentos, segundo Marcos Tavares, médico pneumologista do Hospital Nove de Julho. O tratamento inclui ainda repouso, atenção à ingestão de líquidos e uma alimentação saudável para fortalecer o sistema imunológico.

Jornal Correio da Bahia