Na década de 90, o maior comércio de drogas na Bahia estava no Morro do Águia, sob o comando de Raimundo Alves, o “Ravengar”. Com a prisão dele nos anos 2000, houve a descentralização da venda de entorpecentes, possibilitando o surgimento das primeiras facções: Caveira e Comando da Paz. Apesar de extintas, impulsionaram outras organizações criminosas, transformando o estado num cenário de guerra. Atualmente, pelo menos 20 facções atuam no território baiano.

Segundo Dudu Ribeiro, cofundador da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, a pulverização do comércio de drogas e a ruptura da paz entre PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) impulsionaram os conflitos na Bahia e no Nordeste, fortalecendo as milícias.

O CORREIO mapeou 20 organizações criminosas em 19 cidades baianas, com a maioria em Salvador. As principais são: Bonde do Maluco (BDM), Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando Puro (TCP), Katiara, Ordem e Progresso (OP), A Tropa, e Bonde do Ajeita. O PCC atua principalmente nas prisões.

Criado em 2015, o BDM é a maior facção, presente em 13 cidades. Outras facções incluem a Raio A, Raio B, Tropa do KLV, MK4, DMP, Mercado do Povo Atitude (MPA), Campinho (CP), Bonde do Neguinho (BDN), Bonde do SAJ, Honda, e Família do Norte.

O sociólogo Daniel Hirata da Universidade Federal Fluminense destaca que a proliferação dessas facções resulta de diversos fatores conjunturais e relações pessoais entre as lideranças. Luiz Cláudio Lourenço da Universidade Federal da Bahia aponta a vulnerabilidade econômica das periferias como um fator que facilita o recrutamento de jovens pelo tráfico.

Conflitos em Salvador

Os principais confrontos em Salvador envolvem o CV e o BDM. Em junho, moradores de Arenoso e Tancredo Neves viveram três dias de terror devido a trocas de tiros. A guerra resultou em 53 tiroteios e 40 mortes em 2023, segundo o Instituto Fogo Cruzado.

A violência também impacta a educação. De fevereiro a maio, 22 escolas fecharam devido aos tiroteios, prejudicando mais de 7 mil alunos. A Escola Municipal Laura Sales de Almeida ficou 25 dias sem funcionar por causa dos ataques do BDM ao CV.

Estatísticas de Violência

Segundo o Atlas da Violência, Salvador teve o maior índice de homicídios entre as capitais brasileiras em 2022, com uma taxa de 66,4 mortes por 100 mil habitantes. Cinco municípios baianos estão entre os 10 mais violentos do Brasil: Santo Antônio de Jesus, Jequié, Simões Filho, Camaçari, e Juazeiro.

Facções e Estratégias Policiais

O delegado João Miranda Pithon Júnior de Pojuca afirmou que a cidade não tem facção estabelecida, mas recebe drogas de facções de outras regiões. Ele destacou a baixa taxa de homicídios e o foco da polícia em combater a criminalidade em geral.

A Atuação do PCC

O PCC, a maior facção do país, concentra-se no comércio internacional de drogas, utilizando a Bahia para escoar narcóticos para 121 países. No estado, o PCC mantém sua atuação nas unidades prisionais. A aliança com o BDM foi rompida, levando o BDM a procurar apoio do TCP.

História das Facções na Bahia

Nos anos 90, o tráfico de drogas era dominado por “Ravengar”. Após sua prisão em 2004, surgiram facções como a Caveira e o Comando da Paz. Em 2015, a Caveira criou o BDM, que se tornou a maior facção do estado após a extinção da Caveira e a aliança com o TCP.

Dudu Ribeiro destacou a necessidade de uma política de segurança pública baseada na proteção da vida e na regulação do mercado de drogas para resolver os conflitos.