Educador baiano foi internado na tarde de segunda (3) e morreu por volta das 20h15, de falência cardíaca aguda. Enterro será em Santo Amaro, nesta terça-feira (4).

O filho do professor, escritor e ex-secretário de Cultura da Bahia, contou que o pai teve cinco paradas cardíacas a caminho do hospital. Jorge Portugal morreu na noite de segunda-feira (3), após falência cardíaca aguda. Ele havia sido internado pela tarde, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) cardiovascular do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS).

“Foi muito rápido, foi uma morte súbita. Ele, por causa da insuficiência cardíaca, o sangue, os nutrientes não circularam pelo corpo. Isso acarretou uma falência do fígado, depois dos rins, ele ficou muito inchado, ele teve cinco paradas cardíacas no caminho de casa até o hospital, ainda chegou com vida, mas a fatalidade aconteceu”, explicou Caetano Inácio Portugal.

O filho de Jorge Portugal ainda detalhou que o professor sofria de insuficiência cardíaca.

“Meu pai teve um AVC há dois anos, implantou um marca-passo em janeiro e, desde então, vinha sofrendo insuficiência cardíaca. Esse é o motivo do falecimento dele”, disse.

Caetano Inácio contou que a mãe dele, esposa de Jorge Portugal, está bastante abalada por causa da morte e aproveitou para agradecer às pessoas que mandaram mensagens para a família.

“Minha mãe foi uma companheira para além do casamento, foi uma parceira de trabalho e uma mãe de meu pai. Cuidava dele com muito carinho, nos mínimos detalhes. Ela está bastante desolada. Agradeço as mensagens de todas as pessoas queridas que têm enviado uma palavra de conforto, e nesse momento é importante para gente ir assimilando, aos poucos, essa perda imensa”, completou.

O velório de Jorge Portugal está previsto para às 11h desta terça-feira (4) e o sepultamento às 16h, ambos na cidade de Santo Amaro, no recôncavo baiano, onde o professor nasceu.

Cardiologista que atendeu Jorge no Hospital Roberto Santos fala sobre a morte do baiano.

O cardiologista e diretor médico do HGRS, André Durães, que acompanhou o caso do professor Jorge Portugal, falou em entrevista ao Jornal da Manhã desta terça-feira como foi a chegada do paciente no hospital e descartou infecção por Covid-19.

“O paciente chegou na sala vermelha da emergência do Hospital Geral Roberto Santos já em estado extremamente crítico, estado de choque cardiogênico e já tinha o relato do Samu que ele tinha apresentado paradas cardiorrespiratória durante o transporte. O choque cardiogênico é quando o coração perde a capacidade de bombear o sangue de maneira efetiva, adequada, gerando sofrimento de vários órgãos por falta de oxigênio, de nutrientes. Entre esses órgãos, o cérebro é o primeiro a sofrer. Muito semelhante a um AVC, quadro muito grave e muitas vezes irreversível”, explicou.

O médico explicou sobre o histórico de saúde do paciente e, assim como o filho de Jorge Portugal, citou a insuficiência respiratória.

“No caso dele, já tinha problema cardíaco. Conversei com a equipe médica que acompanhava ele em outro hospital, conversamos com a família também. Ele tinha insuficiência cardíaca, que é quando o coração, cronicamente, perde essa capacidade. E na ocasião, como ele não tinha uma reserva, o coração dele já era frágil e não suportou manter uma circulação sanguínea adequada, e entrou em um quadro similar a um colapso circulatório”, conta.

Sobre a Covid-19, o médico disse que a doença foi descartada e afirmou que o histórico clínico do professor é totalmente compatível com problema cardíaco.

“Surgiu a notícia de que ele poderia estar com Covid-19, mas toda a história clínica dele era incompatível com Covid-19. A história clínica dele é 100% compatível com problema cardíaco, não havia história de febre, tosse, nada que que sugerisse a possibilidade de Covid-19, nem contato om ninguém com Covid-19, então nós praticamente descartamos a possibilidade de Covid-19″, explicou o médico.

Nascido em 1956, na cidade de Santo Amaro, no recôncavo da Bahia, Jorge Portugal completaria 64 anos na quarta-feira (5). Formado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, ele foi um educador, poeta, letrista e compositor brasileiro que marcou gerações. De acordo com a família, o enterro de Portugal será em Santo Amaro, às 16h, de terça-feira (4).

O educador ficou conhecido por obras voltadas para estudos universitários, como o livro “Redação é assim”, adotado por cursos pré-vestibulares de Salvador. Sempre sorridente, Portugal se consolidou como apresentador de televisão ao liderar por nove anos “Aprovado”, programa educativo voltado para estudantes universitários na TV Bahia.

Baianos ilustres e anônimos homenageiam o professor Jorge Portugal, que morreu na segunda

Nas redes sociais, Jorge Portugal costumava ler poemas, postar músicas, e claro, dar dicas de estudos. No Instagram, o último post dele foi no dia 3 de junho. Antes, no dia 24 de maio, ele fez um vídeo falando sobre a quarentena. [Assista ao vídeo acima]

“Para aqueles que nunca entenderam profundamente o que é cultura, está podendo vivenciar agora. A cultura do abraço, do carinho, do afeto, do estar próximo, isso está cancelado por um bom tempo. Eu só espero que, depois de toda essa experiência, a humanidade tire a essência dessa lição e seja bem melhor “, disse.

Entre as letras de sucesso compostas por Jorge Portugal está “Só se vê na Bahia”, escrita em parceria com Roberto Mendes e outras composições, que ficaram marcadas nas vozes de Gal Costa, Maria Bethânia e Elba Ramalho, como “Vida vã”, “Filosofia pura” e “A massa”.

Em 2015, Portugal foi nomeado secretário de Cultura da Bahia, onde ficou até 2017. Jorge Portugal deixa esposa, Rita Vieira, e três filhos, o sociólogo Caetano Ignácio, a atriz Bárbara Bela e o jornalista Thiago Dantas.

Repercussão

Em nota, o governador Rui Costa lamentou a perda e decretou luto oficial no estado na terça-feira (4).

“Imensamente entristecidos, lamentamos a morte do ex-secretário de Cultura do Estado Jorge Portugal. Educador, poeta, compositor, Jorge era um homem de múltiplos talentos, exercidos com a energia e a simpatia que inspirava todos à sua volta. Era, antes de tudo, um homem apaixonado pela Bahia e pelo seu povo que estiveram sempre no centro do seu trabalho, fosse como administrador público, professor e artista. Como diz um dos seus versos: ‘Uma nação diferente, toda prosa e poesia, tudo isso finalmente, só se vê, só se vê na Bahia’. Nossos sentimentos para seus amigos e familiares por essa grande perda”, disse Rui Costa.

Nas redes sociais, o prefeito de Salvador, ACM Neto também lamentou a morte do professor.

“A Bahia perde hoje um grande professor, poeta e compositor que trouxe valorosas contribuições para a educação e cultura da nossa terra. Que Deus conforte os familiares e amigos de Jorge Portugal neste momento de profunda dor”, disse ACM Neto.

O vice-governador da Bahia e secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, João Leão, também lamentou a morte do professor e ex-secretário de Cultura da Bahia. “Jorge Portugal era um amigo querido, com quem tive o imenso prazer de trabalhar na política e conviver na vida. Aos familiares e amigos, meus mais profundos sentimentos por este momento de pesar. Portugal deixa um legado para a língua portuguesa, pelo acesso democrático à educação e para a cultura baiana”.

A secretária de cultura do estado, Arany Santana disse que “A Bahia perdeu um grande educador, intelectual e artista, um homem que amava as letras e a cultura”. “Santamarense, filho de Oxóssi, sua sensibilidade e inteligência lhe abriram caminhos para que conquistasse espaço e tivesse sua voz ouvida por todos os cantos deste Estado que ele tanto amou. Perdemos um grande poeta. Homem negro, professor, grande compositor, e ex- secretário de Cultura da Bahia, com quem tive o privilégio de trabalhar durante a sua gestão, e a desafiadora missão de o suceder, e fui honrada por seu apoio”, completou Arany.

Em nota, a Secretaria de Educação da Bahia relembrou a trajetória de Portugal, o qual classificou como “educador por natureza”, “que dedicou a vida às letras, seja através do magistério, por meio do qual deixa um imenso legado; seja por meio das valiosas contribuições que imprimiu nas artes musical e literária”.

A secretaria informou que que o professor Jorge estava envolvido em um projeto com a SEC sobre “Educação em época de pandemia”, com foco na preparação dos estudantes para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

“Jorge era um homem sensível, sempre preocupado com o social e, por isso, abraçou a educação e a cultura como um projeto de vida, sendo conhecido, respeitado e admirado pelos baianos. Era um comunicador nato e sabia utilizar seus dons em prol do aprendizado de várias gerações. Na música, ele foi igualmente genial, deixando eternizado em verso e prosa o seu desejo por uma sociedade mais igual, mais fraterna e cheia de afetos. Neste momento tão difícil que atravessamos, com tantas perdas, a partida de Jorge Portugal nos deixa um vazio ainda maior. Queremos externar a ele a nossa gratidão e à família o nosso sentimentos de profundo pesar”, afirmou o secretário da Educação do Estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues.

A nota da Secretaria de Educação foi finalizada com uma homenagem em forma de música: “Nesta segunda-feira, recorre-se à composição ‘Vila do adeus’, de Jorge Portugal e seu parceiro Roberto Mendes, nesta despedida. ‘Histórias que não voltam mais quando os lenços cortam os laços, num definitivo adeus. Nenhum abraço, nenhum sol nos olhos baços, nem um traço, nem um véu, apenas o silêncio e o som de Deus, apenas o silêncio…’.

No Twitter, o jornalista da TV Globo, Chico Pinheiro, deixou uma mensagem de despedida ao baiano. “Acabo de receber a triste notícia de que Jorge Portugal nos deixou. Poeta, professor, ex-secretário de Cultura da Bahia sofreu 4 paradas cardíacas antes de ser internado em Salvador. Descanse em paz, meu amigo, grande baiano!”.

No Facebook, o cantor Paulinho Boca, ex-Novos Baianos, também deixou uma homenagem a Jorge Portugal. “Vai com Deus grande Jorge Portugal. Para que todos fiquem sabendo: dentre todas as qualidades desse ilustre e queridíssimo baiano, foi Jorge Portugal quando estava como Secretário de Cultura do Estado da Bahia quem me intimou, viabilizou e assegurou condições para a reunião do Novos Baianos na reinauguração da Concha Acústica de Teatro Castro Alves. Pontapé inicial para que voltássemos a cena musical Brasileira. Salve, Salve Jorge Portugal. Vá em paz”.

A Universidade Federal da Bahia lamenta o falecimento do professor, poeta, compositor e ex-secretário de Cultura da Bahia Jorge Portugal.

Graduado em letras pela UFBA, Jorge Portugal publicou livros voltados à preparação pré-vestibular de incontáveis alunos do ensino médio, tendo apresentado por nove anos o programa “Aprovado”, voltado ao público secundarista e universitário.

Secretário de Cultura do Estado da Bahia entre 2015 e 2017, Jorge Portugal é autor de composições de sucesso, como “Só se vê na Bahia”, parceria com Roberto Mendes, entre outras, gravadas por artistas como Gal Costa, Maria Bethânia e Elba Ramalho.

Em nota, a Universidade Federal da Bahia (Ufba) destacou a importância de Jorge Portugal como educador, poeta e compositor, e se solidarizou com a esposa filhos, familiares e amigos do ex-secretário de Cultura da Bahia.

Em nota, Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM), lamentou a morte do amigo. “Um cidadão brasileiro, baiano e Santamarense de responsa, esse sempre foi Jorge Portugal. Impossível falar dele sem um sorriso nos lábios, uma leveza na alma e muita poesia no coração. Portugal ressignificou o ensino com sua excepcional verve comunicativa e valorizou, como ninguém, nosso jeito de ver o mundo e se relacionar com ele. Com sua partida, as palavras perdem seu brilho e a nossa língua perde um de seus melhores tradutores. Vá em paz grande mestre!”, disse.

Através das redes sociais, o cantor e compositor baiano, Caetano Veloso, disse que Portugal era vizinho dele em Santo Amaro e destacou que o professor era “uma mente e uma sensibilidade típica do recôncavo”.

O compositor Jota Veloso disse à TV Bahia que Jorge Portugal é um dos maiores letristas da música popular brasileira e que terá eterna gratidão pelo professor.

“É uma tristeza grande essa notícia que a gente recebe, um grande compositor, certamente um dos maiores letristas da música popular brasileira, que eu tive a sorte de conviver e na realidade, apesar de eu ser de família de artistas, nasci em família de artistas, a coisa de eu ter me tornado compositor foi a convivência com ele e com Roberto Mendes. Esse presente eles me deram e a eles terei eterna gratidão”, disse Jota Veloso.

Nas redes sociais, a jornalista e humorista de stand up comedy Maíra Azevedo, conhecida como “Tia Má”, que foi aluna de Jorge Portugal fez um depoimento.

“Eu sempre falei a ele da minha admiração e respeito! Esse mestre @jorgeportugal09 foi meu professor e sempre elogiava meu dom pela escrita. Quando ele soube que estava fazendo jornalismo, falou que escolhi a profissão correta. Quando comecei a “ser” Tia Má , professor Jorge me lembrou do meu compromisso com a coletividade, coisa que ele nunca esqueceu! Sua partida repentina me fez lembrar dos seus versos “Apesar de tanta dor, de tanto não, somos nós a alegria da cidade” e com ele era exatamente assim! Um sorriso no rosto e uma ideia para colocar em prática! O senhor fez história e será sempre APROVADO! #professor #mestre #jorgeportugal”, disse Tia Má.

O ator baiano Lázaro Ramos também se manifestou através das redes sociais, falou sobre a trajetória profissional de Portugal e destacou: “Tanta paixão que ele mostrava pelo saber que a gente não tinha outra opção a não ser se apaixonar também”.

Ator Lázaro Ramos publicou nas redes sociais sobre a morte do professor e escrito baiano Jorge Portugal — Foto: Reprodução/Instagram

Portugal também foi lembrado e homenageado no perfil da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), evento literário que já é marca registrada no calendário de eventos da Bahia.

“A Flica se junta aos baianos na dor pela perda do poeta e professor Jorge Portugal. Sua partida nos é especialmente sentida por sua ligação direta com o evento, enquanto secretário estadual de Cultura empenhado em apoiá-lo, enquanto criador e conhecedor da literatura que pôs seu talento na mediação de oito mesas literárias, entre 2012 e 2016. Tanto numa missão quanto na outra, o fez como o fazia em tudo a que se dedicava: com alegria, com entusiasmo, com carinho, com emoção.⠀

Nossa solidariedade à família, aos amigos, parceiros e alunos. Nosso sentimento aos que criam e divulgam a literatura em nossa terra. Um de nós, um dos grandes, dos maiores, se foi. Que permaneça seu exemplo, seu legado”.

G1 Bahia.