A cesta básica está sob pressão em todo Brasil. Produtos como feijão, leite, óleo de soja e carne acumulam altas e o arroz já é encontrado 80% mais caro em alguns supermercados. O cenário tem preocupado entidades, que cobram medidas governamentais para controlar a situação.
O aumento abrupto no preço dos pacotes de arroz tem causado eco nas redes sociais ao longo dos últimos dias. A página de memes “Nazaré Amarga” compartilhou uma foto de um supermercado, do Paraná, anuncia um pacote de arroz por R$ 42,99. “Não vai ter uva passa no arroz se não tiver arroz”, ironizou a postagem.
O aumento no preço do arroz tem assustado consumidores. Conforme o levantamento publicado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) nesta sexta-feira (4), o cereal tão presente na mesa dos brasileiros teve um salto de 17,91% em agosto, na comparação com o mês de julho. A pesquisa é publicada todo mês pela entidade e leva em conta preço de 13 itens que compõe uma cesta básica.
Para complicar, essa alta é uma tendência que deve permanecer nas próximas semanas. Se o aumento ainda não ficou evidente em todas as prateleiras, basta olhar os números diretos do produtor. Conforme o levantamento diário do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), a saca de 50 quilos do arroz tipo 1 chegou aos R$ 100,46 nesta quarta-feira, dia 2, ultrapassando a barreira dos R$ 100 pela primeira vez.
O recorde foi quebrado novamente na sexta, quando o valor foi para R$ 101,92 — nível mais alto na série histórica do Cepea, iniciada em 2005. Para se ter ideia do salto no preço, na mesma data no ano passado, o valor da saca era de R$ 44,76, um aumento superior aos 124%. Neste mesmo período, a inflação acumulada no país foi de apenas 2,31%, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Regularidade
Analisando a série histórica do Cepea, é possível notar que o arroz não costumava apresentar grande alteração de preço, seguindo um patamar de regularidade ao longo dos anos. Porém, do início deste ano para cá, o cenário mudou. No dia 2 de janeiro, a saca de 50 quilos estava cotada em R$ 48,05. Ou seja, só neste ano, comparando este dado de janeiro com o de setembro, o aumento foi de 109,07%.
O Diário Gaúcho consultou o Procon Porto Alegre para saber se os preços podem ser considerados abusivos e se o órgão está tomando alguma medida. Conforme a entidade, “o aumento dos preços está sendo identificado sobretudo na indústria _ e não no varejo _ em vários Estados e municípios do país”. Este é um dos indicativos de que o preço final nos comércios ainda tem chance de ser afetado, nos casos onde já não foi.
O comunicado do Procon da Capital ainda relatou que houve, ontem, uma reunião com representantes do órgão em vários Estados e decidiu-se levar o tema ao Ministério da Justiça e, talvez o Ministério da Economia, já que os aumentos podem ligados a “da alta do dólar, exportações etc.”. “Envolve toda a cadeia e não apenas o consumidor da ponta”, finalizou a entidade de defesa do consumidor na Capital.
Consumo alto e safra distante
Quando um produto tem sua procura elevada, para garantir que os estoques não se esvaziem, eleva-se o preço. É a lei da oferta e da demanda. Neste ano, itens como tomate, batata e leite já foram integrantes da cesta básica que mudaram de patamar nos preços. Agora, o mesmo se repete com o arroz. Isso tudo é consequência de sazonalidades — períodos do ano em que o produto fica naturalmente mais caro ou barato, em razão da entressafra ou de uma estiagem, por exemplo. Porém, neste ano, outros ingredientes foram adicionados. Com mais tempo em casa e com a chegada do auxílio emergencial, o consumo foi mais acentuado, tornando a busca por itens básicos, como o arroz, ainda mais forte.
Entretanto, o problema pode se estender, já que o país ainda está na entressafra do grão e precisará seguir importando o produto para abastecer seu mercado interno. E quem importa, paga em dólar, moeda que está muito valorizada frente ao real. Por isso, a alta do arroz ainda pode ter consequências longas na mesa do brasileiro.
Estiagem
Membro da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) e também administrador de supermercado, Bruno Lang diz que a alta dos preços já está sendo sentida na hora da compra junto aos fornecedores. Segundo ele, ainda está sendo possível manter o preço pelo estoque, mas assim que as recompras precisarem ser refeitas, as alterações irão chegando ao consumidor.
— Tem uma marca que comercializava o pacote de 1 quilo, no supermercado, por R$ 5,40. Hoje, o vendedor me avisou que o valor no fornecedor já está R$ 5,39. Ou seja, quem ainda não subiu o preço, quando for reabastecer seu estoque, enfrentará essa realidade — acredita Bruno, que ainda aponta a forte estiagem pelo qual o Estado passou como outro fator para a escassez de arroz no mercado.
Fonte: siga noticias