A independência do Brasil é comemorada nesta quarta-feira (7/9). A data é marcada pelo fim da relação entre colônia e metrópole estabelecida pela colonização brasileira. Com o grito de “independência ou morte” nas margens do riacho do Ipiranga, o então imperador dom Pedro I pôs fim ao Período Joanino.
Com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, as relações entre as elites brasileiras e o reino português foram estremecidas. Havia um conflito de interesse entre as diversas camadas sociais brasileiras que afetou diretamente na vigência de normas e leis estabelecidas por Portugal.
Para o professor do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vantuil Pereira, o atraso no processo de independência brasileira impactou principalmento o desenvolvimento agrário, a manutenção da escravidão no país, além do impacto financeiro, uma vez que o Brasil assumiu dívidas portuguesas com o Reino Unido.
“Na verdade, parte desse atraso se deveu sobretudo pela presença do monarca lusitano em terras americanas, dificultando o surgimento de movimentos contestatórios e a divisão territorial. O rei oferecia o amálgama político para a unidade”, explica Vantuil Pereir.
Segundo a pesquisadora e doutora em história do Brasil, Cecília Lorenzini Oliveira, a independência do país culminou em uma grande ruptura nas relações estabelecidas entre a Casa de Bragança e a colônia. “Esse rompimento foi duro porque havia muitos interesses incrustados tanto em Portugal quanto no Brasil em relação aos vínculos entre as diferentes partes do império português”, afirma a historiadora.
Para Cecília Lorenzini, é importante ver o período de independência não como uma forma de comemoração e sim uma maneira de entender a sociedade e a política brasileira atual após 200 anos.
“As experiências constitucionais, representativas, eleitorais, que aconteceram naquele momento, de construção da cidadania, o modo pelo qual os diferentes segmentos sociais que entendiam pode iluminar e o que nós estamos de alguma forma enfrentando hoje como desafios”, explica.
|Vantuil Pereira afirma que é importante lembrar do processo de independência brasileira, refletir sobre ele e aprender a influência dos diversos povos que compunham o Brasil naquela época para colocar fim a relação entre a metrópole e a colônia.
“A independência nos remete à rememoração e ao longo processo de afirmação de nossa identidade, que hoje sabemos ser composta de uma multiplicidade de povos”, explica o professor Pereira. “Lembrar de um evento ocorrido há duzentos anos nos faz refletir sobre o sentido de soberania, que deve ser visto de forma plena”, completa.
Brasil ainda dependente
Cecília Lorenzini afirma que o Brasil, como nação, ainda é um país independente. Contudo, as camadas sociais, ainda mais as minorias brasileiras, ainda precisam se libertar da dependência dos grupos opressores. A historiadora avalia ser importante oferecer para essas pessoas oportunidades de educação, maior participação na política e mais cidadania.
“Ser independente é ser politicamente, culturalmente e cientificamente soberano. Então não somos. Continuamos sendo um país dependente dos países hegemônicos”, afirma o professor da UFRJ.
Para Vantuil Pereira, é importante olhar para as minorias brasileiras para garantir a sua total independência, criar relações dignas de trabalho e de aposentadoria para da população. “Independência é o povo poder gozar plenamente de dignidade para viver”, acrescenta.