A distribuição de cocaína adulterada na região metropolitana de Buenos Aires provocou uma tragédia. Pelo menos 23 pessoas morreram e 84 tiveram que ser hospitalizadas na quarta-feira e nesta quinta devido ao uso de drogas que foram processadas com uma substância “com alto nível de toxicidade” ainda a ser identificada. As autoridades de saúde da província de Buenos Aires lançaram um alerta epidemiológico, enquanto a polícia rastreia a origem da droga envenenada. Até agora dez pessoas foram presas.

As prisões ocorreram em um bunker no assentamento conhecido como Puerta 8, nos arredores de Buenos Aires. Foi o local indicado como ponto de venda da cocaína envenenada pelas famílias das vítimas, segundo o ministro da Segurança da província de Buenos Aires, Sergio Berni.

— Encontramos a mesma embalagem que os parentes das vítimas nos deram para investigar — disse Berni ao canal de notícias TN. — É muito importante mostrar a embalagem. É de náilon e cor de rosa. Parece que estavam fechadas a termofusão — acrescentou. Na madrugada desta quinta-feira 15 mil doses com características similares foram apreendidas. Dez pesoas foram presas, incluindo o que seria o dono do lote adulterado, um traficante paraguaio Jo Aquino, conhecido como El Paisa  de 33 anos.
termofusão — acrescentou. Na madrugada desta quinta-feira 15 mil doses com características similares foram apreendidas. Dez pesoas foram presas, incluindo o que seria o dono do lote adulterado, um traficante paraguaio Jo Aquino, conhecido como El Paisa  de 33 anos.

Conforme a BBC, a mãe de uma das vítimas, identificada como Beatriz, disse a jornalistas que o filho de 41 anos passou mal quando estava na cozinha da casa onde moram.

— Meu filho teve uma parada cardíaca e mal conseguia respirar. A ambulância demorou meia hora. Mas eu entendo que é porque foram muitas ligações para o mesmo problema, ao mesmo tempo. Meu filho é usuário de drogas desde os 14 anos, agora está entubado, mas tenho esperança.

A preocupação das autoridades com o caso é muito grande, o que levou o ministro da Segurança da província a fazer um pedido na quarta-feira a todos os consumidores de droga: “Quem comprou droga nas últimas 24 horas tem que descartá-la”. É, segundo ele, uma substância com “alto nível de toxicidade”.

Mesmo com o alerta, o ministro da Saúde da província de Buenos Aires, Nicolás Kreplak, afirmou que três pessoas que haviam sido internadas por causa da cocaína e liberadas tiveram que ser hospitalizadas novamente por terem utilizado a droga adulterada outra vez.

Os investigadores aguardam o resultado dos exames toxicológicos para saber a substância letal com a qual a cocaína foi misturada.  De acordo com o jornal La Nación, uma das hipóteses é que a substância usada seria fentanil, um opiácio 100 vezes mais potente do que a cocaína. Em agosto do ano passado, oito pessoas morreram em Long Island, em Nova York, por causa de cocaína misturada com fentanil. Autoridades confirmaram se tratar de um opióide, mas ainda não se sabe qual.

— Isso é excepcional, não temos precedentes, o que nos leva a pensar que, qualquer que seja a substância, ela foi misturada intencionalmente. Não é um erro no processamento do material, ou não parece ser porque o resultado da perícia ainda não está pronta — disse o procurador-geral da cidade portenha de San Martín, Marcelo Lapargo.

Os principais sintomas dos consumidores hospitalizados são “sinais de choque, depressão sensorial, desconforto respiratório e excitação psicomotora”, segundo o alerta epidemiológico emitido pelo Ministério da Saúde à equipe médica. As autoridades de saúde suspeitam que “podem se tratar de casos de intoxicação por opiáceos e se desconhece a existência de outro produto relacionado”, embora estejam aguardando os testes toxicológicos para confirmar ou descartar essa hipótese.

Os investigadores também procuram esclarecer em que elo da cadeia de distribuição a cocaína foi adulterada e os motivos para tal. Após boatos de que o envenenamento poderia ser sabotagem como parte de uma guerra entre traficantes, o ministro da Segurança de Buenos Aires, Sergio Berni, descartou essa hipótese:

— Se fosse uma guerra às drogas, não estaríamos prendendo quem estava distribuindo a droga — afirmou Berni.

Depois de uma visita com Carlos Bianco, chefe de assessores, e o ministro da Saúde da província, Berni disse que “devemos entender esse fenômeno, para ver por que a coca se mistura com essas substâncias”.

As autoridades temem que o número de vítimas aumente com o passar das horas, já que alguns dos pacientes internados estão em estado grave e novos pacientes intoxicados ainda estão chegando.