A guerra entre facções criminosas tem escalonado nos últimos tempos, principalmente quando se fala em “gestos proibidos”. Somente em 2024, ao menos seis pessoas teriam morrido por fazerem os sinais associados aos grupos, segundo a Polícia Civil da Bahia. No caso mais recente, neste mês de janeiro, Marcos Vinicius Alves Gonçalves, de 20 anos, um jovem sem antecedentes criminais, foi morto a tiros em Feira de Santana após publicar uma foto em uma rede social.

Para o investigador da Coordenação de Operações e Recursos Especiais (CORE), Douglas Pithon, as lideranças mais jovens do tráfico têm valorizado os símbolos como forma de demonstrar poder.

O apego aos sinais seria fruto de uma combinação de ego e busca por status dentro das organizações. Enquanto isso, líderes mais experientes estão focados em movimentar grandes quantias de dinheiro — como os R$ 4,9 bilhões anuais estimados do tráfico internacional comandado pelo PCC, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial ao Crime Organizado).

“O mais novo quer mostrar, quer atirar, quer mostrar poder, quer ter símbolo. É um cara com vinte e poucos anos, que está portando fuzil. É o que a gente chama de atuação de chão de fábrica, o poder pelo poder. É o cara que é o gerente. Para quem é a liderança de verdade, a gente percebeu que ele quer dinheiro, lavar dinheiro, e pouco se importa com o gesto que o morador está fazendo com as mãos”, disse Pithon ao UOL.
Apesar de ter ganhado destaque na Bahia, as mortes relacionadas aos símbolos estão espalhadas pelo Brasil, em estados como Ceará, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Amazonas.

Símbolos

Pithon explica que o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, duas das maiores facções que atuam no Brasil, seguem linhas diferentes. O primeiro, de acordo com o investigador, busca a “manutenção do território, a criação de ideoloa de enfrentamento, cultura de empoderamento e busca envolver a comunidade nas práticas delituosas”. O grupo rival, no entanto, é “focado no lucro, a boa distribuição da droga e na grande rota dos portos”.

O CV, por exemplo, usa como símbolo os dois dedos levantados, imitando “v de vitória” ou “paz e amor”. Com o gesto, os membros da facção costumam dizer que tá “tudo dois”.

Já o PCC se apropriou de gestos com três dedos, podendo confundir até os sinais de “ok” e “te amo” em libras. Na Bahia, segundo Douglas Pithon, o “3” do é atribuído ao Bonde do Maluco (BDM), considerada a maior facção do estado.

Muito além de gestos, roupas também estão sendo associadas ao crime organizado. No último dia 10, o auxiliar de serviços gerais Francisco de Assis Ricardo de Almeida, de 40 anos, estava a caminho da igreja em Catiri, no Rio de Janeiro, quando foi morto. Ele teria sido confundido com um miliciano, pois utilizava uma camiseta preta.

A “cartilha do medo” se estende até para os personagens da Disney, já que o desenho do Mickey está vinculado a uma outra facção que é conhecida como “A Tropa” no território baiano, tanto na capital quanto na região do Recôncavo.

Em Saubara, por exemplo, um ambulante identificado como Allisson Cerqueira Nascimento, 18 anos, foi assassinado por criminosos no dia 3 de janeiro do ano passado, porque usava uma camisa com o desenho do Mickey quando foi agredido até a morte por membros do BDM.

Em resposta, as autoridades vêm se mobilizando para coibir essas ações criminosas, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) divulgou neste mês, o canal do “Disque Denúncia” que passa a funcionar 24h por dia. Por meio do telefone 181, com ligação gratuita, a população pode fazer denúncias sobre a atuação de facções com total sigilo.