O interior da Bahia entrou de vez na rota das armas de guerra que chegam nas mãos de grupos criminosos. Apesar de Salvador sediar grande parte das ocorrências violentas, concentrando 19,2% dos homicídios dolosos, o interior apresenta números preocupantes em relação à presença de armamento de alto calibre. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA), dos 26 fuzis apreendidos pelas forças policiais na Bahia neste ano, 15 estavam no interior. No ano passado, foram 66 fuzis apreendidos durante todo o ano, e 22 num recorte de janeiro a junho, segundo dados nacionais da segurança pública.
O último deles foi apreendido em Entre Rios no último domingo (9), quando um criminoso identificado como Jaílson Jesus de Sousa entrou em confronto com policiais da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco) e da Cipe Litoral Norte. Mais conhecido como Fumaça, o traficante era membro da facção do Bonde do Maluco (BDM). Na sua ficha, a reportagem encontrou dois indiciamentos do Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) por crimes contra o sistema nacional de armas.
Professor de Estratégia e Gestão Pública do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e professor licenciado da Escola de Administração da UFBA, Sandro Cabral tem pesquisas na área de segurança. Ele explica que os fuzis são valiosos para grupos que travem disputas por territórios. “São armas desejadas pelo seu poder de destruição. Os fuzis são fundamentais para assegurar tomada de territórios ou manutenção de áreas conquistados e são importantes instrumentos para ações violentas como roubos a banco. Então, o apelo de ter fuzis é muito grande”, fala o professor.
Secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA), Marcelo Werner foi questionado se o volume de fuzis encontrados no interior preocupa. Em resposta, disse que, por conta do armamento, houve reforço na proteção dos policiais. “O fuzil é uma arma de alto calibre. A gente tem reforçado, até em razão do armamento que estamos aprendendo, nossa força de segurança com viaturas semiblindadas, novo armamento, colete, escudos e todo o aparato de proteção para as forças de segurança”, explicou Werner.
O titular da SSP-BA afirmou também que o maior volume dessas armas se deve às organizações criminosas que as adquirem para disputas territoriais. Uma fonte da polícia, que prefere não se identificar, coloca isso na conta da reorganização dos grupos criminosos. “A gente viu há anos a chegada do CV, que mudou o nível de armas encontradas aqui. Agora, como aconteceu com Fumaça, se vê também essas armas na mão do BDM, que já recebeu inclusive apoio logístico do PCC. Com esses grupos nacionais aqui, as facções deram um passo à frente em questão de armas no seu poder. Primeiro se refletiu aqui para depois chegar ao interior”, fala a fonte.
Além do PCC em apoio logístico, a Bahia assistiu também a chegada do Terceiro Comando Puro (TCP), maior rival do Comando Vermelho (CV), no Recôncavo. Em reportagem veiculada na segunda-feira (10), o CORREIO denunciou a presença do mesmo grupo na capital baiana, no bairro de Mussurunga.
Veja a lista de fuzis encontrados no interior por ordem cronológica:
08 de janeiro: fuzil apreendido em Juazeiro
09 de janeiro: fuzil 5.56 apreendido em Maragogipe
18 de janeiro: fuzil apreendido em São Gabriel, na Chapada Diamantina
22 de janeiro: fuzil apreendido em Feira de Santana
25 de janeiro: fuzil 5.56 apreendido em Ilhéus
13 de fevereiro: fuzil apreendido em Portão
23 de fevereiro: fuzil apreendido em Vera Cruz
16 de março: fuzil apreendido em Itabuna
02 de abril: fuzil 5.56 apreendido em Sapeaçu
02 de abril: fuzil 7.62 apreendido em Juazeiro
07 de maio: fuzil apreendido na região da Ceasa
12 de maio: dois fuzis 5.56 apreendidos em Vitória de Santo Antão (PE)
14 de maio: fuzil 5.56 apreendido na Chapada Diamantina
09 de junho: fuzil 5.56 apreendido em Entre Rios